terça-feira, 25 de maio de 2010

Triste

Tem dias em que a voz nem chega a ficar embargada, simplesmente não há forças pra falar. Mesmo quando estou eufórica, há coisas que zeram minhas energias, eu ocupo meus pensamentos quando estou acompanhada, mas quando as paredes do meu quarto me encaram, sou obrigada a olhar minhas feridas.

Dói lembrar que me machucaram, dói muito mais saber que eu deixei que me machucassem. A capacidade das pessoas de se deixarem cegar para os fatos quando confiam, amam ou estão encantadas é incrível; a de se regenerar, virar páginas tristes e estancar ferimentos nem tanto.

Hoje desconfio que tenha vivido durante anos da minha vida numa mentira, logo eu, que detesto o mundo da Alice. Não que a sensação atual seja agradável, é que decepção tem um sabor tão infeliz, tão amargo, gosto de lágrima, especialmente quando se confiava cegamente em quem mentiu, omitiu ou simplesmente fez de conta que nada aconteceu.

A crueldade em crianças é interessante: não bastava ser a menina rejeitada, gorda, chata, solitária e careta da turma, o papel de bobo da corte ficou para mim, pior é que desse último eu nem sabia. Reverti todos os cenários, nada como uma boa dose de tempo na petulância de uns e na insegurança de outros, mas motivo de piada eu ainda fui por muito tempo para as crianças cruéis que viraram adultos frustrados.

É estranho perceber que pessoas que riram ao meu lado hoje interpretam a minha alegria como um ataque avassalador. Muito triste saber que a minha felicidade ofende, que a minha tristeza envaidece, que o meu sucesso causa despeito e que o meu silêncio é provocativo. Acredito que seja mais díficl para eles viver sem ter a oportunidade de me julgar a cada passo, do que para mim viver sem quem eu considerei um dia amigo de fato.

Tenho fé de que não tarda o dia em que olharei para o meu passado com indiferença simples devida a quem não respeita quem ama. Neste instante dói.

Um comentário:

  1. Ah... fica assim não...
    Não conheço quem tenha vivido e não tenha passado por esse tipo de coisa. Conheço quem tenha passado pela vida, mas não quem tenha vivido de fato. Sabe? Existe uma diferença...

    Mas a graça é essa! A de aprender a lidar com isso tudo, a de ser feliz contudo, apesar de tudo... A graça está em se gostar, embora não gostem...

    A graça é escolher como lidar com isso...
    ...Escrevendo sobre isso, por exemplo.

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